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21 de Agosto de 2012 15h49

Encontro debate educação e homofobia em Cuiabá

Giovania Teixeira Duarte - (65) 3645-6578

Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no ano 2000 e publicado em 2004, revelou que 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula. A pesquisa foi aplicada a 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras.

Diante desse cenário, a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá (SME), em parceria com o Grupo Afro-Descendente de Livre Orientação Sexual/Gradelos “Tereza de Benguela”, realiza hoje (21-08) e na quarta-feira (22/08), o “II° Seminário Sobre Educação e Homofobia: Por uma Prática Pedagógica sem Homofobia”.

Destinado aos educadores do município, o encontro discutirá as práticas educativas escolares sobre a diversidade de orientação sexual e a construção de uma educação livre da discriminação.

Na avaliação do diretor de Gestão Educacional da SME, Gilberto Fraga de Melo, a escola é um espaço, por excelência, diverso e, por isso, deve possibilitar aos educadores a leitura dessa diversidade. “É necessário que os professores tenham atitude frente às diferenças, sejam elas de cor, de religião, orientação sexual. Para isso, é necessário que ele supere, na prática, os próprios preconceitos”.

Segundo Melo, é necessário que os professores conheçam até mesmo a legislação, que prevê a igualdade de direitos. “No filme Filadélfia, há um momento em que o personagem do ator Denzel Washington, que é advogado, é questionado sobre a atitude de defender a causa de um homossexual e ele responde que a Constituição não diz que todos os heterossexuais são iguais perante a Lei e afirma que, indistintamente, todos devem ser tratados com igualdade. Acho que essa deve ser a premissa dentro do ambiente escolar”, exemplificou o diretor.

De acordo com o presidente do grupo Gradelos “Tereza de Benguela”, Leonardo Figueiredo, é importante que as ações de discriminação no ambiente escolar sejam registradas e discutidas, tanto pela escola como pelos gestores públicos. “É por meio dessas discussões que criamos mecanismos de combate à homofobia em suas diversas instâncias”.

O Ministério da Educação, de acordo com o coordenador-geral de Direitos Humanos do MEC, Fábio Meirelles Hardman, tem realizado diversas formações para educadores por meio de do programa “Gênero e Diversidade na Escola”, com o objetivo de orientar os professores da Educação Básica a lidar com situações que envolvam gênero, relações étnico-raciais e orientação sexual. “Já qualificamos cerca de 35 mil educadores. Além disso, também elaboramos e distribuímos material pedagógico relacionados ao tema, e já lançamos o edital para aquisição de  livros que abordam direitos humanos e diversidade”.

Adair Neri da Cruz, 49 anos, é professora da escola municipal Juarez Sodré, no bairro Araés, e relata que o preconceito em relação à orientação sexual existe mesmo entre as crianças menores. “Ao se depararem com os colegas diferentes, alguns atribuem apelidos e xingamentos. Na escola, realizamos um trabalho de conscientização sobre o assunto, mas nem sempre é fácil, pois, às vezes, o preconceito é do próprio professor. O que esperamos dessas formações é que esse tema seja acessível na escola porque ainda há muito tabu”, observou.

O presidente da ONG Livre-Mente de Cuiabá, Clóvis Arantes, um dos palestrantes do evento, afirmou que, muitas vezes, a escola é omissa em relação aos casos de homofobia por desconhecer os prejuízos que esse tipo de atitude pode acarretar à pessoa discriminada. “A omissão é o pior tipo de comportamento que a escola pode ter. Muitas vezes, a direção e os próprios professores carregam esses valores e, assim, acabam reproduzindo isso no ambiente escolar”.

Para ele, os educadores devem se conscientizar que a homofobia e o bullyng estão presentes no cotidiano da escola e que a violência não pode ser naturalizada. “Sabemos também que existem profissionais que têm esse tipo de comportamento por falta de conhecimento. Por isso, a importância dessas formações”.

Também participaram da abertura do encontro o presidente do sindicato das Escolas Particulares de Mato Grosso (Sinepe), Gelson Mengatti Filho, o presidente do Sintep/Cuiabá, João Custódio da Silva, a presidente do Conselho Municipal de Educação de Cuiabá, Regina Lúcua Araújo, o coordenador geral do CORSA (Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade, Amor), a professora Vera Lúcia Bertolini, coordenadora do Grupo de Estudos em Direitos Humanos e Cidadania LGBT do NIECV/UFMT, a representante do Sintep/MT, Jocilene Barbosa e a gerente de Diversidades Educacionais da SEDUC/MT, Ângela Maria dos Santos.

O evento está sendo realizado na Escola Superior de Contas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, em período integral, e conta com palestras como “A Construção de Gênero no Ambiente Escolar”, “Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT” e “Diversidade Sexual: O Desafio da Inclusão nas Escolas”.